09/10/2014

Teste de diagnóstico – 6º ano


Teste de diagnóstico – 6º ano
                                                                                I                                                          

              Lê o texto com atenção. Podes consultar o vocabulário apresentado a seguir ao texto.

UM FIO DE FUMO NOS CONFINS DO MAR
         Nada me prende a esta cena, onde derretemos no verão e gelamos no inverno, para aprender coisas que me dizem muito pouco. Cumpro os horários, faço o que é preciso e, se não tenho notas negativas é apenas porque, ao contrário do que pensa a setôra de português, que nunca me dá mais do que 10, por causa da minha mórbida1 imaginação, eu não sou completamente burra – e também não quero ouvir constantemente a minha mãe deitar-me à cara os sacrifícios que faz para me educar.
         Numa última tentativa para me fazer retomar o estudo, o Crispim ainda veio com a história do “flagelo2 do trabalho infantil”, apresentando várias estatísticas3 que nos davam como um dos países que mais mão de obra infantil utilizam, mas os muitos anos de namoro com ele tornaram a minha mãe  numa especialista de leis e contratos:
         - Não te faças parvo. Sabes muito bem que, aos dezasseis anos, qualquer pessoa pode trabalhar legalmente.
         Eu, que sou a interessada, raramente abro a boca. Porque a verdade é que não sei muito bem o que responder. Não se pode dizer que tenha grande vocação para o trabalho, essa é que é essa. Quando eu era pequena, nunca tive aqueles sonhos que todos os miúdos têm de quererem ser bombeiros, astronautas, sei lá que mais.
         O meu único sonho, nestes anos todos, foi sempre acabar a escola o mais rapidamente possível, e depois fugir de casa. Só isso.
         Assim como há colegas minhas que querem ser modelos, jornalistas de televisão, bailarinas do Big Show SIC4, nadadoras-salvadoras como nas Marés Vivas, atrizes de telenovela – eu só quero fugir de casa. Quando era mais miúda, sonhava com um navio branco a deitar nuvens de fumo lá nos confins do mar, e embarcar nele para destinos de estranhos nomes, a Sildávia, por exemplo, que eu conhecia nos livros do Tintin, ou o Egito, onde haveria de encontrar Radamés e apaixonar-me por ele até à morte, como a escrava Aída5.
         Depois cresci e comecei a pensar que fugir de barco talvez não fosse boa ideia. Levava muito tempo, e as fugas querem-se rápidas. Apaixonei-me então pelos comboios, e com eles sonhava – e sonho – noites a fio. E sempre da mesma maneira: chego a uma estação de caminho de ferro desconhecida, saio do comboio com a mala na mão, uma boina levemente inclinada na cabeça, um impermeável vestido com a gola levantada no pescoço, porque é inverno e a chuva escorre, e atravesso espessas nuvens de fumo até chegar ao restaurante da gare, com mesas de ferro e chão de madeira a cheirar a sabão e cera. Sento-me depois, e ali fico a beber chocolate quente, até que um soldadinho, acabado de chegar da frente de batalha, se inclina levemente na minha frente e me pede para comigo partilhar mesa e chocolate.
           Alice Vieira, Um Fio de Fumo nos Confins do Mar, Caminho, 2004

VOCABULÁRIO
1. mórbida – doentia; 2. flagelo – grande calamidade pública; desgraça; 3. estatísticas – compilações de exemplos para inferências de regras gerais; 4. Big Show SIC – programa televisivo dos anos 90; 5. Aída – escrava etíope, apaixonada por Radamés, que era um general egípcio do tempo dos faraós.

Responde ao que te é pedido sobre o texto que acabaste de ler, seguindo as orientações que te são dadas.
1.    Transcreve do texto uma expressão que comprove que a narradora é uma personagem feminina.
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2.    Nas questões 2.1. e 2.2., assinala com X a opção correta, de acordo com o sentido do texto que acabas de ler.
2.1.  A narradora tem notas positivas...
a. porque estuda com regularidade.
b. apesar de se mostrar pouco empenhada.
c. porque tem muita imaginação.
graças à professora de português.
2.2.  Para evitar as advertências da mãe, a narradora...
a. diz que gostaria de começar a trabalhar.
b. quase nunca abre a boca.
c. ouve o Crispim sem protestar.
d. cumpre os horários estabelecidos.
3.        Quem é o Crispim? Assinala a resposta correta.
a. É o irmão da narradora.
b. É um colega de escola da narradora.
c. É o namorado da mãe da narradora.
d. É o namorado da narradora.
4.        Na sequência “Eu, que sou a interessada, raramente abro a boca” (linha....), a narradora recorre a uma perífrase. Justifica a afirmação.
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5.        Considera a frase seguinte: “O meu único sonho, nestes anos todos, foi sempre acabar a escola o mais rapidamente possível...” (linhas...). Na tua opinião, por que motivo era tão importante para a narradora concluir rapidamente a sua escolaridade?
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       _________________________________________________________________________________
II

Responde ao que te é pedido sobre o conhecimento explícito da língua.
1.    Lê as frases seguintes.
a.    O Crispim apresentou várias estatísticas.
b.    A minha mãe namora há muitos anos com o Crispim.
c.    Aos dezasseis anos, qualquer pessoa pode trabalhar.
d.   Quando eu era miúda, tinha poucos sonhos.
1.1.  Transcreve os quatro quantificadores que encontras nas frases acima.
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2.    Lê a frase:
O Crispim ainda veio com a história do “flagelo do trabalho infantil”, apresentando várias estatísticas
2.1.  Classifica as palavras sublinhadas na frase quanto ao número de sílabas, escrevendo-as no quadro, de acordo com o que é pedido:
Um monossílabo

Um dissílabo

Um trissílabo

Um polissílabo

3.    Transcreve cinco palavras do campo lexical da escola que encontras nos dois primeiros parágrafos do texto.
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4.    Indica a base a partir da qual se forma cada uma das palavras derivadas seguintes:
Palavra derivada
Base
jornalista

legalmente

maresia

retomar

5.    Considera a frase seguinte.
Eu cumpro os horários.
5.1.  Faz a análise sintática da frase.
Sujeito

Predicado

Complemento direto


III

Vais agora escrever um texto.

A narradora do texto intitulado “Um fio de fumo nos confins do mar” revela o sonho que tem desde a infância: embarcar num navio branco em direção a destinos estranhos.
Recorda um filme que tenhas visto ou um livro que tenhas lido em que se apresente um local distante e estranho.
Descreve esse local, num texto de  25 a 30 linhas, indicando:
§ as sensações que esse local sugere;
§ três elementos do espaço, no mínimo;
§ a situação geográfica desse local;
§ o meio de transporte que se pode utilizar para aí chegar.
Antes de começares a escrever, planifica o teu texto de modo a incluíres nele:
§ um parágrafo de abertura, para introduzires o assunto a abordar;
§ dois ou três parágrafos, para desenvolveres o tema;
§ um parágrafo final, para retomares o assunto abordado no primeiro parágrafo, sob a forma de conclusão.

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