Teste de diagnóstico – 6º ano
I
Lê o texto com atenção. Podes consultar o vocabulário apresentado a
seguir ao texto.
Nada me prende a esta cena, onde derretemos no verão e
gelamos no inverno, para aprender coisas que me dizem muito pouco. Cumpro os
horários, faço o que é preciso e, se não tenho notas negativas é apenas porque,
ao contrário do que pensa a setôra de português, que nunca me dá mais do que
10, por causa da minha mórbida1 imaginação, eu não sou completamente
burra – e também não quero ouvir constantemente a minha mãe deitar-me à cara os
sacrifícios que faz para me educar.
Numa última tentativa para me fazer retomar o estudo, o
Crispim ainda veio com a história do “flagelo2 do trabalho
infantil”, apresentando várias estatísticas3 que nos davam como um
dos países que mais mão de obra infantil utilizam, mas os muitos anos de namoro
com ele tornaram a minha mãe numa
especialista de leis e contratos:
- Não te faças parvo. Sabes muito bem que, aos dezasseis
anos, qualquer pessoa pode trabalhar legalmente.
Eu, que sou a interessada, raramente abro a boca. Porque a
verdade é que não sei muito bem o que responder. Não se pode dizer que tenha
grande vocação para o trabalho, essa é que é essa. Quando eu era pequena, nunca
tive aqueles sonhos que todos os miúdos têm de quererem ser bombeiros,
astronautas, sei lá que mais.
O meu único sonho, nestes anos todos, foi sempre acabar a
escola o mais rapidamente possível, e depois fugir de casa. Só isso.
Assim como há colegas minhas que querem ser modelos,
jornalistas de televisão, bailarinas do Big
Show SIC4, nadadoras-salvadoras como nas Marés Vivas, atrizes de telenovela – eu só quero fugir de casa.
Quando era mais miúda, sonhava com um navio branco a deitar nuvens de fumo lá
nos confins do mar, e embarcar nele para destinos de estranhos nomes, a
Sildávia, por exemplo, que eu conhecia nos livros do Tintin, ou o Egito, onde
haveria de encontrar Radamés e apaixonar-me por ele até à morte, como a escrava
Aída5.
Depois cresci e comecei a pensar que fugir de barco talvez
não fosse boa ideia. Levava muito tempo, e as fugas querem-se rápidas. Apaixonei-me
então pelos comboios, e com eles sonhava – e sonho – noites a fio. E sempre da
mesma maneira: chego a uma estação de caminho de ferro desconhecida, saio do
comboio com a mala na mão, uma boina levemente inclinada na cabeça, um
impermeável vestido com a gola levantada no pescoço, porque é inverno e a chuva
escorre, e atravesso espessas nuvens de fumo até chegar ao restaurante da gare,
com mesas de ferro e chão de madeira a cheirar a sabão e cera. Sento-me depois,
e ali fico a beber chocolate quente, até que um soldadinho, acabado de chegar
da frente de batalha, se inclina levemente na minha frente e me pede para
comigo partilhar mesa e chocolate.
Alice Vieira, Um Fio de Fumo nos Confins do Mar,
Caminho, 2004
VOCABULÁRIO
1. mórbida – doentia; 2. flagelo – grande calamidade pública;
desgraça; 3. estatísticas – compilações
de exemplos para inferências de regras gerais; 4. Big Show SIC – programa televisivo dos anos 90; 5. Aída – escrava etíope, apaixonada por
Radamés, que era um general egípcio do tempo dos faraós.
Responde ao que te é pedido sobre o texto que
acabaste de ler, seguindo as orientações que te são dadas.
1.
Transcreve do texto uma expressão que comprove
que a narradora é uma personagem feminina.
____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
2.
Nas questões 2.1. e 2.2., assinala com X a
opção correta, de acordo com o sentido do texto que acabas de ler.
2.1. A narradora tem notas positivas...
a. porque estuda com
regularidade.
b. apesar de se mostrar
pouco empenhada.
c. porque tem muita
imaginação.
graças à professora de
português.
2.2. Para evitar as advertências da mãe, a narradora...
a. diz que gostaria de
começar a trabalhar.
b. quase nunca abre a
boca.
c. ouve o Crispim sem
protestar.
d. cumpre os horários
estabelecidos.
3.
Quem é o Crispim? Assinala a resposta correta.
a. É o irmão da
narradora.
b. É um colega de escola
da narradora.
c. É o namorado da mãe da
narradora.
d. É o namorado da
narradora.
4.
Na sequência “Eu, que sou
a interessada, raramente abro a boca” (linha....), a narradora recorre a uma
perífrase. Justifica a afirmação.
_________________________________________________________________________________
5.
Considera a frase
seguinte: “O meu único sonho, nestes anos todos, foi sempre acabar a escola o
mais rapidamente possível...” (linhas...). Na tua opinião, por que motivo era
tão importante para a narradora concluir rapidamente a sua escolaridade?
___________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________________
II
Responde
ao que te é pedido sobre o conhecimento explícito da língua.
1.
Lê as frases seguintes.
a.
O Crispim apresentou várias estatísticas.
b.
A minha mãe namora há muitos anos com o
Crispim.
c.
Aos dezasseis anos, qualquer pessoa pode
trabalhar.
d.
Quando eu era miúda, tinha poucos sonhos.
1.1. Transcreve os quatro quantificadores que encontras nas frases acima.
____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
2.
Lê a frase:
O Crispim
ainda veio com a história do “flagelo do trabalho infantil”,
apresentando várias estatísticas.
2.1. Classifica as palavras sublinhadas na frase quanto ao número de sílabas,
escrevendo-as no quadro, de acordo com o que é pedido:
Um monossílabo
|
|
Um dissílabo
|
|
Um trissílabo
|
|
Um polissílabo
|
3.
Transcreve cinco palavras do campo lexical da
escola que encontras nos dois primeiros parágrafos do texto.
_________________________________________________________________________________
4.
Indica a base a partir da qual se forma cada
uma das palavras derivadas seguintes:
Palavra derivada
|
Base
|
jornalista
|
|
legalmente
|
|
maresia
|
|
retomar
|
5.
Considera a frase seguinte.
Eu cumpro os horários.
5.1. Faz a análise sintática da frase.
Sujeito
|
|
Predicado
|
|
Complemento direto
|
III
Vais agora escrever um texto.
A narradora do texto
intitulado “Um fio de fumo nos confins do mar” revela o sonho que tem desde a
infância: embarcar num navio branco em direção a destinos estranhos.
Recorda um filme que
tenhas visto ou um livro que tenhas lido em que se apresente um local
distante e estranho.
Descreve esse local,
num texto de 25 a 30 linhas,
indicando:
§ as sensações que esse local sugere;
§ três elementos do espaço, no mínimo;
§ a situação geográfica desse local;
§ o meio de transporte que se pode utilizar para aí chegar.
Antes de começares a
escrever, planifica o teu texto de modo a incluíres nele:
§ um parágrafo de abertura, para introduzires o assunto a abordar;
§ dois ou três parágrafos, para desenvolveres o tema;
§ um parágrafo final, para retomares o assunto abordado no primeiro parágrafo,
sob a forma de conclusão.
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